A trajetória de Cuca no Corinthians durou menos de uma semana. O técnico informou a saída do clube hoje, pouco depois da classificação emocionante da equipe sobre o Remo, em partida válida pela Copa do Brasil que acabou nos pênaltis.
“Antes desse sonho se realizar tiveram quatro dias muito ruins para mim, de pesadelo. Foi quase um massacre o que acabou acontecendo. Estava muito concentrado nessa decisão, não queria tirar o foco. […] Saio nesse momento porque não era como eu queria. Você espera a vida inteira por isso e sai dessa maneira, como um pedido. […] Quem julga, também pode ser julgado. Mais importante é eu agradecer o presidente [Duílio], que é uma pessoa maravilhosa. Já tinha tomado essa decisão ontem. […] Se Deus quiser, eu volto um dia para poder fazer um trabalho do começo ao fim”
Passagem rápida e polêmica
- Cuca sai da equipe após um trabalho de dois jogos. No domingo (23), a equipe perdeu para o Goiás em jogo da 2ª rodada do Campeonato Brasileiro, e hoje conseguiu eliminar os paraenses da Copa do Brasil nos pênaltis.
- A condenação por estupro pesou. Apesar da derrota recente, o motivo da saída não foi restrito ao futebol apresentado pelo time em Goiânia: o técnico está envolvido em um crime ocorrido na Suíça em 1987 — na época, ele jogava pelo Grêmio e acabou condenado.
- Os protestos começaram assim que Cuca foi anunciado. No mesmo dia da apresentação do treinador, uma manifestação tomou conta da porta do CT Joaquim Grava. Os torcedores se mostraram contra a iniciativa da diretoria alvinegra, comandada pelo presidente Duílio Monteiro Alves.
- O futebol feminino do Corinthians também se manifestou. Em nota conjunta, as jogadoras do elenco e o técnico Arthur Elias afirmaram que o movimento “‘Respeita As Minas’ não é uma frase qualquer” — o nome de Cuca, no entanto, não foi citado. Ex-diretor do clube na época da “Democracia Corinthiana”, Adilson Monteiro Alves, pai de Duílio, endossou o protesto.
- Crime na Suíça ganhou reviravolta. Entrevistado pelo UOL, o advogado Willi Egloff, que representou a vítima de estupro na Suíça, afirmou que a menina reconheceu Cuca como um dos agressores — na entrevista de apresentação no Corinthians, o treinador disse que ele não foi reconhecido pela vítima. Egloff também confirmou a informação do jornal “Der Bund”, de Berna, que informou na época que o sêmen do brasileiro foi encontrado na garota.
Veja o que Cuca disse ao anunciar saída:
Estou aqui na emoção do jogo, um jogo que foi demais. Pela primeira vez, pude sentir o pulsar da Arena, da Fiel a favor, foi maravilhoso com a conquista dessa vaga… Foi um dia vivido, assim, de um sonho. Foi maravilhoso. Antes de esse sonho se realizar, tiveram quatro dias muito ruins para mim, de pesadelo.
Foi quase um massacre o que acabou acontecendo. Estava muito concentrado nessa decisão, não queria tirar o foco. Isso acaba levando para os jogadores. Hoje eles me emocionaram. Estou aqui há cinco dias e e não pedi nada: eles ofertaram. O que eu estou passando — quero ser bem breve, não quero ser vítima de nada — é a pior coisa que um homem pode passar, quando está xeque a dignidade dele, quando invadem as redes da mulher, das filhas com ameaça, xingos…
Chega um momento assim que, sinceramente, vou fazer 60 anos no mês que vem. Você pesa o que vale a pena e o que não vale. Nesse momento, quero fazer valer a pena a minha família, que é a coisa mais importante no mundo. Não esperava essa avalanche aqui, são coisas que aconteceram há muito tempo e trazidas como se tivessem acontecido ontem. Fui julgado e punido pela internet. Isso tem consequência muito grande.
Saio nesse momento porque não era como eu queria. Você espera a vida inteira por isso e sai dessa maneira, como um pedido… Contratei o doutor Daniel, a doutora Bia. Eles vão fazer todo o trabalho que nunca pude fazer. Nunca contratei ninguém, agora pode ser feito. Quem julga, também pode ser julgado.
Mais importante é eu agradecer o presidente, que é uma pessoa maravilhosa. Já tinha tomado essa decisão ontem. [O Duílio] é um cara do bem, que vive lá dentro, um cara do bem, simples, eu estava prejudicando ele. A gente vê, a gente sente conversando com ele… Não é justo deixá-los sofrendo por um problema que é meu.
É nisso que foi baseado essa saída minha. Agradecer aos jogadores nesse sete dias que estou aqui. Os caras me abraçaram. Foi muito bacana. Se Deus quiser, eu volto um dia para poder fazer um trabalho do começo ao fim.
Fonte: Uol
Foto: Marcos Ribolli