O médico Draurio Barreira, gerente da tuberculose na Unitaid (Central Internacional para a Compra de Medicamentos contra a Aids, malária e tuberculose), agência global ligada à OMS (Organização Mundial da Saúde), foi convidado para assumir o novo Departamento de Vigilância de IST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.
“Desejo voltar ao Brasil e contribuir com o processo de reconstrução”, afirma o médico, que atuou em programas de vigilância de doenças sexualmente transmissíveis no país na década de 1990.
“Penso na articulação de uma agenda interministerial que possa elevar a agenda de eliminação da Aids e das hepatites virais nas prioridades de governo”, acrescenta.
Para Barreira, “eliminação” é um termo possível e alcançável até 2030, conforme a meta proposta pela OMS. “Podemos ser o primeiro país em desenvolvimento a eliminar a tuberculose. Tenho muita clareza da factibilidade dessa meta de eliminação da doença como problema de saúde pública e da mesma maneira podemos pensar nas hepatites virais e na Aids”.
Ele sabe que as ações dos próximos anos podem devolver ao Brasil o papel de protagonista no enfrentamento à Aids e espera que o posto seja reconquistado.
“O Brasil tem condições como poucos de liderar o movimento sanitário de forma muito ousada porque, diferentemente de quase todos os países, tem um sistema de saúde que provê o acesso universal. Isso é muito raro”, finaliza.
O médico Fábio Mesquita chegou a ser cogitado para o cargo, mas no fim o escolhido foi Barreira.
Coordenador do Programa Nacional de Controle da Tuberculose até 2016, Barreira pediu afastamento do Ministério da Saúde para assumir o posto na agência em Genebra (Suíça), focada na inovação em saúde e no fornecimento de novas ferramentas para prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças, principalmente Aids, tuberculose e malária.
“Meu ciclo agora, voltando do global para o nacional, tem foco no indivíduo afetado, em prover acesso à inovação para as populações mais vulneráveis e necessitadas”, afirma.
Um dos desafios, diz ele, é garantir o acesso às novas tecnologias da área. Cita como exemplo os testes rápidos para HIV que podem ser feitos pela própria pessoa -que no Brasil não avançam porque o diagnóstico no país é baseado no médico. “É preciso descentralizar, dentro dos protocolos de saúde, para que não só os profissionais mas a população que precisa possa fazer o seu próprio diagnóstico”, defende.
“Quando a prevenção for factível, é melhor prevenir do que tratar. Quando o tratamento for a solução, que seja acessível a todos. Hoje, há estratégias de teste como melhor forma de prevenção, no sentido de testar e prover tratamentos. Há profilaxia pré e pós-exposição. Temos um arsenal, agora precisamos impactar especialmente as populações mais vulneráveis”, diz
Barreira reconhece, porém, que não basta oferecer opções. É preciso saber o que as pessoas precisam e o que melhor se adapta à sua realidade.
“O primeiro passo de qualquer resposta nacional a uma doença é ter como interlocutor aquele que vai ser beneficiado pelas ações, então ouvir a sociedade civil, as comunidades afetadas e a academia de modo a oferecer o que as pessoas precisam, não o que imaginamos ser necessário. As balas mágicas não existem”.
Outro desafio é a necessidade de garantir mais recursos. Nesse sentido, uma das ações vislumbradas por Barreira é propor o enfrentamento a essas doenças como uma agenda intersetorial, mobilizando recursos financeiros e humanos de outras áreas.
“Tenho muita convicção de que é possível criar essa agenda. Para isso, há necessidade de recriar os órgãos de gestão participativa como tradicionalmente havia e que cada comissão possa transcender o campo específico de um departamento, de um ministério, para que seja uma agenda realmente transversal e de governo”, comenta o médico.
Fonte: Folhapess
STEFHANIE PIOVEZAN
Foto: Saúde Pulsando