Esse Alceu caminhador, que explora Paris e Jupi (PE) com a mesma disposição, conversou com a Gazeta de Alagoas. O artista falou dos seus processos criativos, a relação com o ócio na pandemia, a solidão e as transformações da indústria musical. Tudo isso empolgado, emendando histórias e opiniões, analisando o passado e o contemporâneo durante uma boa conversa. Para começar, ele revelou que produziu quatro álbuns inéditos durante o confinamento. Confira.
GAZETA DE ALAGOAS. Como foi produzir novos álbuns na pandemia e o que o público pode esperar dos álbuns que ainda serão lançados?
ALCEU VALENÇA. Para mim, digamos, foi uma maneira de eu burlar o tédio. Foi inconsciente, comecei a tocar, tocar, tocar e… aliás, são três álbuns – Quatro! São quatro. Por aqui tinha uma obra, a obra quase que me enlouquece. Eu não podia sair, então, de noite, eu pegava o violão, coisa que eu não costumo muito, né? Só quando vem esses surtos criativos que a minha mulher fala que eu tenho. Aí eu comecei a tocar, tocar, tocar, tocar e aí ela vê a história e diz, “tá muito bom, vamos falar com o cara pra ver se você grava”, tal e coisa. Falou, mas o estúdio tava fechado, abriram o estúdio pra gente, eram duas pessoas dentro do estúdio. A gente fazia o teste [de Covid] todos os dias que ia gravar. Aí gravei um, depois gravei o segundo, depois gravei o terceiro, depois gravei o quarto. Junto com o Paulo Rafael, que tocava comigo há 46 anos, guitarrista, e que faleceu, mas antes ele gravou comigo, um cara maravilhoso, era um amigo irmão.
E como será o show aqui em Maceió?
Agora vamos ao show daí, o show que eu vou fazer aí é outra coisa. Esse show que eu vou fazer é do Alceu, vamos dizer, o Alceu, que eu sou, do interior, né? É o Alceu do forró, é o Alceu do sertão, do agreste, é o Alceu baiano, é o Alceu do xote, é o Alceu do xaxado, uma parte é isso. Depois tem a parte do Alceu contemporâneo, do Alceu que tem raiz em tudo que é canto, você vai ver no meu Spotify, mais de 100 países estão tocando a minha música. É um absurdo o que está acontecendo com a gente.
E como você vê esse seu crescimento na internet?
Se você quiser, dê uma olhada no meu YouTube, você vai ver, inclusive, 185 milhões de acessos ao vídeo de Belle de Jour/Girassol. E esses acessos vêm de toda parte do mundo. É aqui, é na Rússia, é na Ucrânia, em Portugal, ali dos Emirados Árabes, dos Estados Unidos e tudo que é canto, entendeu? Tá tocando muito depois da internet, virou uma outra coisa, não precisou da gravadora nesse sentido. Em determinado momento, eu posso até ler para você aqui, o cara fez o levantamento [do YouTube]: Olha só, Stevie Wonder tem 140 milhões, eu tenho mais. Eu não vou fazer dos brasileiros, porque fica chato, tá? Não quero não. Vem Bob Dylan, com 78 milhões. Ringo Starr fez 7 milhões, só. Paul McCartney, 75 milhões. Iron Maiden, 78 milhões, e assim vai. E aí eu tenho 185 milhões. Nessa época eu não tinha tanto não, devia ter 180 milhões, porque subiram mais e eles devem ter subido também, mas se você quiser você entra, olha, vai e procura Paul McCartney. Ou seja, isso acontecer é absurdo, uma coisa que vem da internet, as coisas que viralizam sem a gente saber porque, não tem a menor noção do que aconteceu e porque aconteceu. Então, hoje, você tem 186.794.799 em Belle de Jour/Girassol.
E como você enxerga esses números em relação ao passado, ali do meio da carreira pra cá?
Mudou tudo. Eu viajei muito, fiz shows em tudo que é canto no mundo, você deve saber disso aí, mas as músicas não tocaram muito não. Tocavam muito pouco nas rádios. Tocava na rádio na França, em Paris, mas tocava muito pouco. Tocava na Suíça. Agora, digamos, a coisa deu um boom muito grande porque as pessoas veem vídeos, inclusive dentro de casa. Isso que eu falei é só de ‘Belle de Jour e Girassol’, que é o que tem mais [visualizações], mas tem Anunciação com milhões e milhões. Juntando, é um absurdo. E aí, Anunciação, ela é do Cerro Porteño, que é um clube paraguaio, o hino [do time]. Aqui, usam no Fluminense também. E aí você encontra essas mulheres que fazem YouTube, uma russa, depois encontra da Inglaterra, encontra uma da França, entendeu, falando sobre essas músicas. Não dá para entender. Só dá para entender que a internet, de uma certa maneira, ela democratizou a música, né? Você hoje pode ouvir uma música chinesa, uma americana, uma francesa, italiana ou inglesa, tudo bem. Antigamente você só tinha a obrigatoriedade de ouvir a música em inglês. Olha a doidice, mudou tudo! A internet chegou e mudou tudo. Entendeu? Agora, se desse pra fazer uma coisa viral assim pensada, é claro que Paul McCartney iria fazer, esse povo todinho, Bob Dylan…
Vamos voltar ao show que você vai apresentar aqui. Como ele foi pensado?
Esse show vai ter o Alceu bailão, o Alceu São João, o Alceu Gonzagão, o Alceu do Sertão, depois tem o Alceu “O Caminhador”, o Alceu que um dia está, vamos dizer, em, sei lá, tá em Jupi, Pernambuco, e no outro dia, outra hora, já tá em Paris. Outra hora tá na Suíça, outra hora tá aqui em Vitória da Conquista, outra hora pode tá lá na Argentina, outra hora tá em Lisboa, outra hora tá no Porto, outra hora, depois do Porto, pode tá em Porto Alegre, eu posso tá no Rio de Janeiro, posso tá em Roma, em tudo que é canto. E viajo o tempo todo.
E como a pandemia impactou isso?
Com esse negócio de pandemia, eu vou te dizer uma coisa, eu tinha feito um concerto gravado com a Orquestra Ouro Preto, lá na cidade de Porto, em Portugal, voltei para cá, fiz o Carnaval. Depois do Carnaval eu teria 45 shows até julho no Brasil e já tinha 14 numa excursão, uma turnê na Europa. Aí essa turnê foi adiada. Eu ia em julho pra lá pra Europa, e aí, por causa da pandemia, foi suspenso. Suspenderam para 2021, e não aconteceu também. E agora tá marcado para 2022. Mas a Europa tá indo muito bem e, agora, com a vacinação, tudo isso aí, vou fazer um outro show. Os produtores viram esses discos que eu gravei só de violão, e aí eu vou fazer, só em Portugal, 10 shows, tá entendendo? Em teatros, eu vou pra vários lugares, menos Lisboa e Porto, que é pra onde eu vou com outro show. Esse outro show será com banda, como aqui em Maceió, vai ser com banda. Mas eu posso também estar fazendo show no teatro, depois, com voz e violão.
Como o público vem lidando com os shows presenciais?
Eu já fiz um show no Espaço das Américas, em São Paulo, com público. Foi uma maravilha! Depois eu fiz o Classic Hall, em Recife, e agora eu estou fazendo aqui. Eu tô no Rio, então o show já foi testado, o povo tá adorando, é o maior show! A gente tá com uma banda competentíssima, tudo em cima e vai ser uma maravilha, tenho certeza!
E como está a expectativa para esse show em Alagoas?
Vai ser uma coisa maravilhosa esse show! De algumas pessoas amigas de Alagoas, eu me lembro muito do Heberth Azzul, um parceiro meu. E também do Lelé, que é Américo, que é um engenheiro que era amigo do meu irmão e, quando eu vim para o Rio, ele me acolheu na casa dele, no apartamento dele. Foi maravilhoso! Uma pessoa maravilhosa danada, deu essa força que eu nunca esquecerei. Ele é tão… eu liguei pra ele pra arranjar uma mesa pra ele, sabe o que aconteceu? Ele já tinha comprado! Vai ser arretado!
SERVIÇO
Show de Alceu Valença
Quando: Sábado, 16 de outubro, portão abre às 20h
Fonte: Gazeta Web
Leonardo Pereira e Maylson Honorato
Fotos: Leo Aversa