Após oito anos do desabamento do Moinho Motrisa, localizado na Avenida Comendador Leão, no bairro do Poço, moradores que vivem no entorno do prédio ainda aguardam o pagamento das indenizações por danos morais e materiais. A situação ainda segue na Justiça, sem acordo entre as partes. O Moinho Motrisa desabou no dia 7 de abril de 2014.
No dia do acidente, toneladas de trigo se espalharam pela Avenida Comendador Leão, via de movimentação comercial, mas também de tráfego de veículos. No entanto, ao lado e por trás do prédio, há uma vila de moradores, a Vila Nossa Senhora do Carmo, cujas casas foram atingidas pelo trigo e pelos materiais de concreto. Felizmente, ninguém morreu.
Tela Cedrim é moradora da vila e lembra do dia, em reportagem à TV Gazeta. “A entrada da vila ninguém podia entrar porque estava cheia de trigo. Era muito trigo, muito trigo. Meu pai era cardíaco. Foi um momento desesperador. Até a gente conseguir entrar pelo cartório. Foi terrível”, diz Telma Cedrim.
Naquele dia, os trigos foram removidos com tratores e máquinas retroescavadeiras. A quantidade era tanta que foi preciso 20 dias para limpar todo o local. O trânsito na Comendador Leão ficou interditado por mais de um mês.
Em 2014, os moradores entraram na Justiça para indenizações. Quatro anos depois, em 2018, a Justiça deu ganho de causa. O Moinho, no entanto, entrou com recurso, que até hoje não foi julgado.
Os moradores conseguiram, por meio de decisão judicial, o pagamento de moradia enquanto não voltavam às casas e enquanto não havia a recuperação dos imóveis. Eles retornaram à vila. Mas nem todos foram ressarcidos.
Eleuza Lima diz que gastou R$ 40 mil do próprio bolso para reconstruir a casa. “Gastei o que não tinha. Tive que trocar telhado de cima. A casa de cima ficou toda quebrada. A de baixo a mesma coisa. Na minha casa eles não colocaram um tijolo”, afirma a moradora.
Os moradores não só reclamam da ausência de pagamento das indenizações, mesmo após oito anos. Eles reclamam ainda do baralho das máquinas, já que o local continua funcionando.
“Eles trabalham dia e noite. Eles estão produzindo. O que incomoda a gente não é só a questão da indenização, mas esse barulho. Não se respeita o morador. O Moinho veio depois e a vila já existia”, diz a moradora Claudia Mendes.
O advogado Múcio Arruda representa 32 pessoas, entre comerciantes e moradores, que aguardam as indenizações por danos materiais e morais.
“Esse processo já fora enviado para a conciliação e mediação do próprio Tribunal de Justiça, mas restaram infrutíferas as tentativas, porque o Moinho não quer fazer acordo. Hoje o processo se encontra concluso ao desembargador para que ele produza a decisão monocrática, que servirá para a Câmara e assim aguardaremos o julgamento com a lavratura do acordo”, diz o advogado.
“Nós perdemos tudo que tínhamos de valor. Que foi o nosso sossego, a nossa paz e alguns danos materiais, mas isso a gente recupera. Muitos moradores aqui se foram. Uns infartaram, uns tiveram derrame, e nada do Moinho Motrisa, que é uma empresa multinacional, nos deu resposta”, Finaliza Meire Cavalcante, também moradora da vila.
O Moinho Motrisa não respondeu à reportagem da TV Gazeta.
Fonte: Gazeta Web
Mariane Rodrigues
Foto: Reprodução