O sistema de emergências do Japão e o governo sul-coreano disseram ter identificado um novo lançamento múltiplo de mísseis realizado pela Coreia do Norte, na manhã desta quinta-feira (3), ainda noite de quarta no Brasil.
Inicialmente, Tóquio suspeitou que um deles tivesse sobrevoado o território japonês em direção ao oceano Pacífico. Autoridades das regiões de Miyagi, Yamagata e Niigata emitiram um alerta para que os moradores procurassem abrigo —evento semelhante havia se dado no começo de outubro em Hokkaido e Aomori, pela primeira vez desde 2017.
Momentos depois, o Ministério da Defesa japonês informou que o artefato não chegou a de fato sobrevoar o território do país. O titular da pasta, Yasukazu Hamada, disse que os militares perderam o primeiro míssil de vista sobre o mar do Japão. “Detectamos um lançamento com o potencial de passar pelo Japão, por isso acionamos o J Alert, mas depois revisamos a trajetória”, disse.
Segundo as autoridades sul-coreanas, Pyongyang lançou ao menos um míssil de longo alcance e dois de curto, de bases na capital e em Kaechon, em um intervalo de pouco mais de uma hora. Análises de Tóquio apontaram que um dos projéteis teria passado por um estágio de separação, característico de armas balísticas intercontinentais.
Outro atingiu 2.000 km de altitude e 750 km de distância, trajetória que indica que o lançamento se deu para o alto, de forma a não sobrevoar países vizinhos.
Os testes se deram um dia depois de a Coreia do Sul acusar o regime vizinho de disparar ao menos 23 mísseis em um dia, no que seria o maior número de disparos de Pyongyang nesse intervalo.
Um dos artefatos voou na direção de uma ilha sul-coreana povoada, o que acionou sirenes de ataque aéreo e forçou moradores a serem retirados. Outro caiu a cerca de 60 km da costa da cidade de Sokcho —no que, de acordo com o governo local, foi o mais perto de seu território que um míssil do Norte já caiu.
Ainda não está claro que tipos de artefatos foram lançados nesta quarta —autoridades especulam a utilização de ao menos sete mísseis balísticos de curto alcance.
Seul respondeu disparando ao menos três mísseis ar-terra na região marítima próxima à linha que divide os países, depois de o gabinete do presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, ter chamado a ação de “ato efetivo de invasão territorial”.
Os novos testes de Pyongyang ocorreram horas após a ditadura norte-coreana exigir que EUA e Coreia do Sul interrompam a realização de exercícios militares na região. Uma nova rodada foi iniciada na última segunda-feira, com aviões de ambos os países em simulações de ataques aéreos, mesmo em meio ao luto nacional decretado após a tragédia de Halloween em Seul que terminou com mais de 150 mortos.
Coreia do Norte diz que mísseis são parte de treinamento tático nuclear
A ditadura de Kim Jong-un chama as ações de provocação, e uma autoridade local citou que a resposta a elas agora poderia se dar por meio de “medidas mais poderosas”. Trata-se de um ciclo vicioso, já que EUA e seus aliados regionais também alegam agir devido às decisões tomadas pela Coreia do Norte.
Nesta quinta, o premiê japonês, Fumio Kishida, disse a jornalistas que os repetidos testes de Pyongyang “são uma afronta e não podem ser perdoados”.
Em 2022, a Coreia do Norte já realizou cerca de 40 lançamentos, em meio a um cenário em que as ameaças atômicas foram renovadas por Pyongyang da forma mais intensa desde 2017. Naquele ano, uma série de testes de mísseis capazes de atingir os EUA e a explosão de uma bomba de hidrogênio levaram o governo do então presidente Donald Trump a negociar diretamente com o ditador norte-coreano.
Não funcionou, até porque a premissa americana era tornar a península uma área sem armas nucleares, e sem elas o regime comunista perde seu principal instrumento de negociação. Agora, a sinalização parece ser a mesma, e há a expectativa de que Kim possa conduzir um teste nuclear a qualquer momento.
No mês passado, os EUA reagiram ao disparo de um míssil de alcance intermediário que sobrevoou o Japão com o envio de um porta-aviões para a região e exercícios de bombardeio com japoneses e sul-coreanos. Pyongyang revidou com mais mísseis balísticos e treinos com caças.
Fonte: Folha de São Paulo
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